O eu que não sou eu

Ao girar a chave na maçaneta da porta, uma serie de coisas começam a acontecer. Meu corpo levemente altera sua postura original, minha caminhada ganha novos ritmos e a minha face, demonstra a insegurança ou a calma. Ao sair, nos preparamos para sermos alvejados por tiros de "olhares" que nos despem, nos castram ou nos abatem, dependendo da ocasião. O olhar do outro é assim tão poderoso ao ponto de nos controlar? Vivemos por nós, ou vivemos pelos outros?.

Paro e analiso um grupo de jovens, todos juntos sentados ao fundo de um ônibus, seus sorrisos falsos, suas meias palavras, indicam a qualquer mente sensível, um certo grau de falsidade. Naquele momento, fundo em suas mentes, está a verdadeira essência de uma pessoa, o seu real ser. Mas, para agradar ao pelotão de fuzilamento, se vestem com camadas de falsidade, para encobrir suas fragilidades, seus verdadeiros sentimentos. Quem já se perdeu em uma multidão, sabe que é fácil perder o seu "eu" em uma multidão uniformizada, coletivizada e homogenia. Mostrar ao mundo quem realmente somos, seria como um cavaleiro medieval, jogar fora sua armadura, para enfrentar um impiedoso dragão. Colocar para fora, a nossa faticidade, o "eu" sob a camada, e prejudicial, nos despe, nos torna frágeis ao olhares fuziladores. 

Então, quando colocamos para fora o nosso verdadeiro eu, descobrimos que ele é uma farsa, um personagem criado pelas mãos de cem artistas. Ando da forma que ando, pois meu pai costumava arrastar os chinelos pela casa, como do jeito que como, pelas constantes puxadas de orelha da minha mãe. Gosto de assistir aquele programa, por que um familiar sempre me fazia assistir. Uso um determinado tipo de roupa, e penso de uma determinada forma, por que fui condicionado à isso. O ser então começa a perder o seu "ser", já que o que sou, nada mais é que aquilo que outros eram, ou são. Sou o resultado de minhas experiencias, o resultado daqueles que convivo, o resultado do mundo e da época, sou resultado de tudo, menos de mim mesmo. Mas nem por isso, preciso fingir ser aquilo, que não sou.


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O eu que não sou eu

11:46


Ao girar a chave na maçaneta da porta, uma serie de coisas começam a acontecer. Meu corpo levemente altera sua postura original, minha caminhada ganha novos ritmos e a minha face, demonstra a insegurança ou a calma. Ao sair, nos preparamos para sermos alvejados por tiros de "olhares" que nos despem, nos castram ou nos abatem, dependendo da ocasião. O olhar do outro é assim tão poderoso ao ponto de nos controlar? Vivemos por nós, ou vivemos pelos outros?.

Paro e analiso um grupo de jovens, todos juntos sentados ao fundo de um ônibus, seus sorrisos falsos, suas meias palavras, indicam a qualquer mente sensível, um certo grau de falsidade. Naquele momento, fundo em suas mentes, está a verdadeira essência de uma pessoa, o seu real ser. Mas, para agradar ao pelotão de fuzilamento, se vestem com camadas de falsidade, para encobrir suas fragilidades, seus verdadeiros sentimentos. Quem já se perdeu em uma multidão, sabe que é fácil perder o seu "eu" em uma multidão uniformizada, coletivizada e homogenia. Mostrar ao mundo quem realmente somos, seria como um cavaleiro medieval, jogar fora sua armadura, para enfrentar um impiedoso dragão. Colocar para fora, a nossa faticidade, o "eu" sob a camada, e prejudicial, nos despe, nos torna frágeis ao olhares fuziladores. 

Então, quando colocamos para fora o nosso verdadeiro eu, descobrimos que ele é uma farsa, um personagem criado pelas mãos de cem artistas. Ando da forma que ando, pois meu pai costumava arrastar os chinelos pela casa, como do jeito que como, pelas constantes puxadas de orelha da minha mãe. Gosto de assistir aquele programa, por que um familiar sempre me fazia assistir. Uso um determinado tipo de roupa, e penso de uma determinada forma, por que fui condicionado à isso. O ser então começa a perder o seu "ser", já que o que sou, nada mais é que aquilo que outros eram, ou são. Sou o resultado de minhas experiencias, o resultado daqueles que convivo, o resultado do mundo e da época, sou resultado de tudo, menos de mim mesmo. Mas nem por isso, preciso fingir ser aquilo, que não sou.


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