TEXTO DE GABRIEL LIMA

Quantas vezes esse tema já não foi abordado na literatura, no cinema e nos videogames. Podemos citar aqui alguns exemplos bem conhecidos; "O Exterminador do Futuro", "Matrix", "Eu, Robo", "Mass Effect" e entre muitos outros. Todas essas histórias abordam uma possível guerra entre orgânicos e mecânicos, humanos e maquinas. Mas de onde emergiu esse pensamento?

GOLEMS E GIGANTES DE BARRO


Muitos mitos antigos já mencionavam criaturas inorgânicas criadas pelo homem ou pelos deuses para servi-los em suas necessidades. Essas criaturas muitas vezes feitas de barro, bronze ou ferro, eram movidas por uma alma, colocada em seus corpos através de magia.  No Talmud, um texto Judaico escrito entre 200 d.C e 500 d.C, Adão teria sido inicialmente criado como um Golem. Todos os Golens nas tradições judaicas, eram concebidos através do barro e do material divino, e não possuíam o dom da fala.

Durante anos o misticismo judaico estudou os textos da Torá ou do Talmud, em busca de uma forma de se criar um Golem. Por volta de 1630 e 1650, um rabino chamado Eliyahu, clamava ter criado um Golem. Segue abaixo o relato de um cabalista polonês contemporâneo a Eliyahu:

E eu ouvi, em um certo e explicito tom, de várias personalidades respeitaveis que um homen vivendo proximo ao nosso tempo, o qual o nome  é R. Eliyahu, o mestre do nome, que fez uma criatura à partir da matéria e forma, e aquilo realizou trabalhos pesados para ele, por um longo periodo, e o nome Emet estava pendurado em seu pescoço, até que ele finalmente o removeu por alguma razão o nome de seu pescoço e virou pó.(Idel, Moshe (1990)
O modo como o golem e apresentado, servindo ao seu mestre em trabalhos pesados, se assemelha em muito ao modo como vemos os robôs hoje em dia. No episódio "O Segundo Renascer: Parte 1 de  "Animatrix", os robôs eram utilizados na construção e em atividades periculosas. No game "Mass Effect", os Geth, foram criados pela raça alienígena dos "Quarians" para ajuda-los em tarefas árduas.

Durante o periodo moderno, vários outros cientistas, engenheiros e mecânicos, tentariam criar um ser artificial, utilizando a tecnologia de sua época. Essa pratica claramente influenciada por mitos antigos e a propria noção da raça humana como criação "à partir do barro", segundo a tradição judaico-cristã, influenciaria por anos o pensamento literário.

O MONSTRO DE MARY SHELLEY

Mary Shelley
Em 1818 seria publicado o livro "Frankenstein; or, The Modern Prometheus", da escritora inglesa Mary Shelley. Em seu livro uma criatura é concebida através de métodos antiéticos e grotescos, pelo jovem estudante de ciência Victor Frankenstein. O livro repleto de temas filosóficos, no tocante a criação e o relacionamento da criatura com seu criador, influenciou e continua à influenciar a literatura. Mary em um discurso certa vez, comparou o monstro de Frankenstein com Adão, citando uma passagem do livro "Paraíso Perdido" de John Milton.

E eu requisitei à ti, criador, que do meu barro
Me moldar homen? Eu solicitei a ti
Da escuridão tu me promovestes.

O conflito inerente entre criatura e criador, estava em grande evidencia no trabalho de Mary Shelley, e viria a influenciar as histórias sobre os seres mecânicos que tanto habitam nosso imaginário.

O PRIMEIRO "ROBÔ"

O termo robô foi utilizado pela primeira vez para denotar um automata fictício, pelo escritor tcheco Karel Capek. A palavra Robõ vem do idioma tcheco e significa "servo".

O robô de Eric


Um dos primeiros robôs humanoides a serem apresentados, foi o robô de Eric, na exibição anual da Sociedade de Engenheiros de Londres. O robô consistia de um corpo solido de alumínio, e onze eletroímãs movidos por um motor de 12 volts, que moviam sua cabeça e seus braços, por controle remoto. 

Dai para frente a industria iria se apropriar das invenções dos engenheiros, e conceberiam centenas de maquinas programadas, que construiriam carros e realizariam funções diversas. O avanço das tecnologias de informação, levariam a criação de computadores, baseados na "Maquina de Turing", e novas tentativas de criar um robô com inteligencia artificial surgiriam, influenciando os escritos de Isaac Asimov, que por sua vez influenciaria toda uma geração de escritores de ficção cientifica.

OS ROBÔS DE HOLLYWOOD

A literatura possui um poder magnifico, ao moldar as ideologias e os pensamentos de uma época, e a noção de uma maquina se rebelando contra os seres humanos não escapa disso. Durante a segunda metade do século XX, as produções cinematográficas hollywoodianas iriam inundar o mundo com o pensamento americano. Várias produções, influenciadas pela literatura, demonstravam robôs conscientes, e muitas vezes rebeldes. Para não prolongar nossa discussão, citaremos aqui talvez o exemplo mais conhecido, o computador de bordo da Discovery no filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço", o famoso HAL 9000.

Ao se rebelar contra os tripulantes da espaçonave, HAL age como um humano, tentando desesperadamente se salvar de um possível desligamento por mal funcionamento. HAL, ao olhar de Kubrick, é uma alegoria do avanço cientifico e da mecanização da vida

Após o impacto do filme de Stanley Kubrick, Hollywood contrairia uma "febre robótica" e centenas de filmes abordando tema sairiam, alguns ridículos e extremamente "toscos" em essência, e outros que levantaram questões significativas e entreteram as multidões, como o T -800 de "O Exterminador do Futuro". Entre outros podemos citar também Blade Runner.

HUMANOS = VÍRUS - ROBÔS = CURA

Durante os últimos quarenta, cinquenta anos novas visões acerca da humanidade tem sido debatidas em constância. Uma visão menos humanista e mais ecológica, tem ganhando a atenção de vários pensadores. A antiga noção de que a raça humana era "detentora" do planeta e de suas formas de vida, vem caindo por terra. A causa principal e a degradação do meio ambiente, causada pelo avanço industrial, que causa, além de outros resultados, o aquecimento global. Essas visões moldariam o pensamento de vários literários e jovens escritores, que deixariam de "endeusar" a especie humana, e começariam a demonstra-la como algo falível e potencialmente destrutivo.

T-800 e John Connor

O filme de James Cameron "O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final", aborda essa questão, mostrando que ao contrário do que se pensava, foram os seres humanos em sua cobiça que iniciaram sua própria destruição. No filme o personagem de Arnold Schwarznegger, um robô reprogramado e enviado para o passado para salvar o líder da resistência humana John Connor, passa por um processo de humanização, aprendendo a "amar" e a proteger. No final do filme, em uma fala profética a mãe de Connor, Sarah comenta que "Se uma maquina pode aprender a amar, talvez um dia nos conseguiremos fazer o mesmo".

No filme "Matrix", o antagonista Smith, um agente das maquinas, faz um discurso bastante sombrio sobre a humanidade. Smith compara os seres humanos à um vírus, que migra de corpo em corpo os destruindo. Essa visão bastante influenciada pelo Zeitgeist (espirito da época), onde a humanidade, falível e volátil, acabaria por se destruir. 

O MITO

Como podemos ver através dessa análise, o mito de uma possível "revolução das maquinas" tem mais a ver com nós mesmos, do que com simples robôs. A ideia de que continuaremos avançando eternamente e um dia nos tornaremos "deuses" ao ponto de realizarmos o ato da criação, e o ponto inicial de todas as tentativas de se criar uma inteligencia artificial. Em nossa busca por avanço tecnológico, destruímos boa parte do planeta e somente agora estamos nos dando conta disso. Uma maquina em sua infinita sabedoria e capacidade de pensar, logo através de uma equação simples e rápida decidiria que os seres humanos seriam incapazes de viver em comunhão com o planeta e consigo mesmos, e os destruiria. Mas tal maquina ainda não existe, e a noção de que somos seres destruidores e um mal para o planeta, advém de nossas próprias mentes. "Ó trágico momento, em que nos tornamos os vilões de nossas próprias histórias". Que esse momento sirva de reflexão.

"OH DAISY!"
















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Mitos Modernos - "A Revolução das Maquinas"

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TEXTO DE GABRIEL LIMA

Quantas vezes esse tema já não foi abordado na literatura, no cinema e nos videogames. Podemos citar aqui alguns exemplos bem conhecidos; "O Exterminador do Futuro", "Matrix", "Eu, Robo", "Mass Effect" e entre muitos outros. Todas essas histórias abordam uma possível guerra entre orgânicos e mecânicos, humanos e maquinas. Mas de onde emergiu esse pensamento?

GOLEMS E GIGANTES DE BARRO


Muitos mitos antigos já mencionavam criaturas inorgânicas criadas pelo homem ou pelos deuses para servi-los em suas necessidades. Essas criaturas muitas vezes feitas de barro, bronze ou ferro, eram movidas por uma alma, colocada em seus corpos através de magia.  No Talmud, um texto Judaico escrito entre 200 d.C e 500 d.C, Adão teria sido inicialmente criado como um Golem. Todos os Golens nas tradições judaicas, eram concebidos através do barro e do material divino, e não possuíam o dom da fala.

Durante anos o misticismo judaico estudou os textos da Torá ou do Talmud, em busca de uma forma de se criar um Golem. Por volta de 1630 e 1650, um rabino chamado Eliyahu, clamava ter criado um Golem. Segue abaixo o relato de um cabalista polonês contemporâneo a Eliyahu:

E eu ouvi, em um certo e explicito tom, de várias personalidades respeitaveis que um homen vivendo proximo ao nosso tempo, o qual o nome  é R. Eliyahu, o mestre do nome, que fez uma criatura à partir da matéria e forma, e aquilo realizou trabalhos pesados para ele, por um longo periodo, e o nome Emet estava pendurado em seu pescoço, até que ele finalmente o removeu por alguma razão o nome de seu pescoço e virou pó.(Idel, Moshe (1990)
O modo como o golem e apresentado, servindo ao seu mestre em trabalhos pesados, se assemelha em muito ao modo como vemos os robôs hoje em dia. No episódio "O Segundo Renascer: Parte 1 de  "Animatrix", os robôs eram utilizados na construção e em atividades periculosas. No game "Mass Effect", os Geth, foram criados pela raça alienígena dos "Quarians" para ajuda-los em tarefas árduas.

Durante o periodo moderno, vários outros cientistas, engenheiros e mecânicos, tentariam criar um ser artificial, utilizando a tecnologia de sua época. Essa pratica claramente influenciada por mitos antigos e a propria noção da raça humana como criação "à partir do barro", segundo a tradição judaico-cristã, influenciaria por anos o pensamento literário.

O MONSTRO DE MARY SHELLEY

Mary Shelley
Em 1818 seria publicado o livro "Frankenstein; or, The Modern Prometheus", da escritora inglesa Mary Shelley. Em seu livro uma criatura é concebida através de métodos antiéticos e grotescos, pelo jovem estudante de ciência Victor Frankenstein. O livro repleto de temas filosóficos, no tocante a criação e o relacionamento da criatura com seu criador, influenciou e continua à influenciar a literatura. Mary em um discurso certa vez, comparou o monstro de Frankenstein com Adão, citando uma passagem do livro "Paraíso Perdido" de John Milton.

E eu requisitei à ti, criador, que do meu barro
Me moldar homen? Eu solicitei a ti
Da escuridão tu me promovestes.

O conflito inerente entre criatura e criador, estava em grande evidencia no trabalho de Mary Shelley, e viria a influenciar as histórias sobre os seres mecânicos que tanto habitam nosso imaginário.

O PRIMEIRO "ROBÔ"

O termo robô foi utilizado pela primeira vez para denotar um automata fictício, pelo escritor tcheco Karel Capek. A palavra Robõ vem do idioma tcheco e significa "servo".

O robô de Eric


Um dos primeiros robôs humanoides a serem apresentados, foi o robô de Eric, na exibição anual da Sociedade de Engenheiros de Londres. O robô consistia de um corpo solido de alumínio, e onze eletroímãs movidos por um motor de 12 volts, que moviam sua cabeça e seus braços, por controle remoto. 

Dai para frente a industria iria se apropriar das invenções dos engenheiros, e conceberiam centenas de maquinas programadas, que construiriam carros e realizariam funções diversas. O avanço das tecnologias de informação, levariam a criação de computadores, baseados na "Maquina de Turing", e novas tentativas de criar um robô com inteligencia artificial surgiriam, influenciando os escritos de Isaac Asimov, que por sua vez influenciaria toda uma geração de escritores de ficção cientifica.

OS ROBÔS DE HOLLYWOOD

A literatura possui um poder magnifico, ao moldar as ideologias e os pensamentos de uma época, e a noção de uma maquina se rebelando contra os seres humanos não escapa disso. Durante a segunda metade do século XX, as produções cinematográficas hollywoodianas iriam inundar o mundo com o pensamento americano. Várias produções, influenciadas pela literatura, demonstravam robôs conscientes, e muitas vezes rebeldes. Para não prolongar nossa discussão, citaremos aqui talvez o exemplo mais conhecido, o computador de bordo da Discovery no filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço", o famoso HAL 9000.

Ao se rebelar contra os tripulantes da espaçonave, HAL age como um humano, tentando desesperadamente se salvar de um possível desligamento por mal funcionamento. HAL, ao olhar de Kubrick, é uma alegoria do avanço cientifico e da mecanização da vida

Após o impacto do filme de Stanley Kubrick, Hollywood contrairia uma "febre robótica" e centenas de filmes abordando tema sairiam, alguns ridículos e extremamente "toscos" em essência, e outros que levantaram questões significativas e entreteram as multidões, como o T -800 de "O Exterminador do Futuro". Entre outros podemos citar também Blade Runner.

HUMANOS = VÍRUS - ROBÔS = CURA

Durante os últimos quarenta, cinquenta anos novas visões acerca da humanidade tem sido debatidas em constância. Uma visão menos humanista e mais ecológica, tem ganhando a atenção de vários pensadores. A antiga noção de que a raça humana era "detentora" do planeta e de suas formas de vida, vem caindo por terra. A causa principal e a degradação do meio ambiente, causada pelo avanço industrial, que causa, além de outros resultados, o aquecimento global. Essas visões moldariam o pensamento de vários literários e jovens escritores, que deixariam de "endeusar" a especie humana, e começariam a demonstra-la como algo falível e potencialmente destrutivo.

T-800 e John Connor

O filme de James Cameron "O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final", aborda essa questão, mostrando que ao contrário do que se pensava, foram os seres humanos em sua cobiça que iniciaram sua própria destruição. No filme o personagem de Arnold Schwarznegger, um robô reprogramado e enviado para o passado para salvar o líder da resistência humana John Connor, passa por um processo de humanização, aprendendo a "amar" e a proteger. No final do filme, em uma fala profética a mãe de Connor, Sarah comenta que "Se uma maquina pode aprender a amar, talvez um dia nos conseguiremos fazer o mesmo".

No filme "Matrix", o antagonista Smith, um agente das maquinas, faz um discurso bastante sombrio sobre a humanidade. Smith compara os seres humanos à um vírus, que migra de corpo em corpo os destruindo. Essa visão bastante influenciada pelo Zeitgeist (espirito da época), onde a humanidade, falível e volátil, acabaria por se destruir. 

O MITO

Como podemos ver através dessa análise, o mito de uma possível "revolução das maquinas" tem mais a ver com nós mesmos, do que com simples robôs. A ideia de que continuaremos avançando eternamente e um dia nos tornaremos "deuses" ao ponto de realizarmos o ato da criação, e o ponto inicial de todas as tentativas de se criar uma inteligencia artificial. Em nossa busca por avanço tecnológico, destruímos boa parte do planeta e somente agora estamos nos dando conta disso. Uma maquina em sua infinita sabedoria e capacidade de pensar, logo através de uma equação simples e rápida decidiria que os seres humanos seriam incapazes de viver em comunhão com o planeta e consigo mesmos, e os destruiria. Mas tal maquina ainda não existe, e a noção de que somos seres destruidores e um mal para o planeta, advém de nossas próprias mentes. "Ó trágico momento, em que nos tornamos os vilões de nossas próprias histórias". Que esse momento sirva de reflexão.

"OH DAISY!"
















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