Análise de filmes: Gravidade (2013)

Quando se coloca o centro de gravidade da vida não na vida mas no "além" - no nada - tira-se da vida o seu centro de gravidade.
Friedrich Nietzsche
Essa frase do filosofo austríaco Friedrich Nietzsche, nos faz pensar sobre as diversas formas de escapismo, que a mente humana criou para lidar com a bruta realidade, resume em parte o estado psicológico da protagonista do filme Gravidade (2013), do diretor Alfonso Cuaron. A doutora Ryan Stone, uma médica que recentemente parece ter aderido ao programa espacial norte-americano, com a construção de um componente para o Telescópio Hubble, enfrenta a depressão, após a morte de sua única filha. Ryan interpretada por uma das minhas menos favoritas atrizes norte-americanas, Sandra Bullock, se afunda cada vez mais em uma depressão, que a leva aos mais profundos abismos de sua alma, e para o maior abismo de todos: o espaço!

E aqui que os simbolismos desse fantástico filme começam!

O ESPAÇO COMO UMA METÁFORA DA DEPRESSÃO

Só quem já passou por um período depressivo, sabe como um pensamento ruim, pode ocasionar outros pensamentos, e quando nos damos conta de nossa situação, estamos vagando sem rumo pelos abismos de nossa mente, tentando fugir de uma constante massa de pensamentos obscuros. Esses pensamentos são representados no filme, como os destroços dos satélites e das estações, que vorazmente ameaçam a vida da protogonista.


Escapar desses pensamentos requer coragem e força de vontade, o que normalmente alguém que passa por uma depressão não possui. No entanto, partes de nossa mente tendem a nos dizer que é inútil se isolar na escuridão, e a melhor coisa a fazer e tentar voltar a realidade, ou simplesmente, enfrentar a gravidade e fincar os dois pés no chão.

O espaço no filme também visto como um espaço estéril, ou seja, onde a vida não pode existir, assim como na depressão. Não se pode viver enquanto não se experimenta vida, e alguém em depressão, passará pela vida como apenas mais um objeto, sem usufruir os bons momentos. A vida somente é possível, fora da escuridão, a vida só é possível quando à aceitamos.

E o que mais motiva a vida, do que a iminência da morte? Após a trágica morte de Matt Kowaski, interpretado por George Clonney, a doutora Stone, se vê "obrigada" de certa forma a sobreviver, e ao mesmo tempo, inconscientemente a mesma começa a querer viver novamente, e não mais vagar à esmo. A terra, ou a vida, se torna o seu destino, mas pra isso ela precisa nascer de novo, e essa cena abaixo diz tudo.


A TERRA COMO UMA METÁFORA DA VIDA

A terra ao menos, pelo que sabemos até agora, é o único planeta no universo, que possui vida. Essa é uma afirmação bastante egocêntrica e principalmente Antropocêntrica, no entanto, somos humanos, e inescapavelmente antropocêntricos. Na mente do diretor e roteirista Alfonso Cúaron, a terra e um simbolo de vida e felicidade, no qual a doutora Ryan Stone, e recebida de braços abertos, após a mesma enfim vencer a escuridão do universo.

O FOGO E A ATMOSFERA: CATARSE   


Em diversas culturas, principalmente de origem Indo-Ariana(persa e hindu), o fogo possui uma característica essencialmente purificadora. O fogo limpa os elementos maléficos do corpo, e conduz a alma ou o objeto a um patamar mais elevado. O fogo no filme, representado pela entrada da doutora Ryan Stone na atmosfera, conduz uma limpeza em seu corpo, limpando os últimos resquícios de sua depressão.

Após a entrada, a doutora e recebida por outro elemento simbólico de purificação, e o elemento primordial da vida: a água. A doutora é banhada pelo elemento primordial e ganha vida através da ingestão.

A ultima cena desse filme, é uma das mais icônicas em minha opinião, Ryan sai da água, e enfrenta a gravidade, ficando em pé, demonstrando que a gravidade não mais é um fardo para ela, ou seja, a vida não lhe é mais um fardo.

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Estratigrafia Cultural: A Relação entre Culturas

A cerca de 515 anos, o território que hoje compõem o Brasil, não havia sofrido a influencia da cultura europeia. Após séculos de migrações, domínio europeu e influencia de ideologias e culturas do velho continente, a cultura pré-colonial, hoje se encontra "marginalizada" e diluída por vezes imperceptivelmente na cultura brasileira.

O termo estratigrafia emprestado da Arqueologia e da Antropologia, lida com a questão dos estratos de solo, ou camadas, que contenham objetos criados por seres humanos. Podemos utilizar esse termo para analisar algo não material? Como a linguagem, ou a cosmogonia?  A resposta é sim!

Tomemos como exemplo a própria cultura brasileira, dominada hoje pela influencia ocidental, e europeia, mas que mesmo assim possui uma grande riqueza cultural advinda de povos nativos, e de escravos africanos trazidos para trabalhar nas plantações ao longo do litoral. Vamos analisar primeiramente uma questão que nos acompanha toda nossa vida, e nos permite relacionar com outros seres humanos, e com mundo: A linguagem.

Brasileires? 

Basta andar pelo centro de São Paulo, uma cidade que possui o nome de um Santo da Igreja Católica Apostólica Romana., para perceber a grande confluência de linguás que se construirão ao longo de séculos de formação do território que vivemos hoje. Imaginemos que você acorde dentro do metro, e as portas se abrem na mais movimentada estação de Metro da América Latina, a estação da Sé, no centro da cidade. Ao sair da estação, você provavelmente vai ouvir várias linguás sendo faladas na cidade, em maior quantidade a linguá portuguesa, também o espanhol, o crioulo ou as linguás africanas de imigrantes haitianos e africanos respectivamente. Em menor quantidade, ouviríamos o inglês, o francês e outras linguás europeias, provavelmente de ingênuos turistas com suas enormes câmeras fotográficas penduradas no pescoço, em uma cidade com altas taxas de roubo.

Existem na cidade vários locais com nomes ainda presentes, de origem Tupi-guarani, como Iguatemi, Itaquera, Tietê, Anhanguera entre muitos outros. Com a atual onde de imigração boliviana e africana, em tempos vindouros provavelmente essas culturas serão também diluídas em nosso meio social.

Neo-pentecostalismo? Ou cristianismo xamanístico?

Na religião também ocorre essa convergência de culturas distintas, um grande exemplo disso seriam as igrejas Neo-pentecostais, tão comuns atualmente no Brasil. Pare e veja um culto, ou assista um video na internet, e tente reconhecer algumas questões alienígenas ao cristianismo europeu, católico ou protestante. Danças quase alucinógenas, e que incutem um espirito ritualístico aos cultos, com pastores usando "poderes de cura" ou objetos sendo utilizados para fins religiosos. Todos esses comportamentos parecem advir de culturas nativas, e de culturas africanas. Como boa parte da população que frequenta essas igrejas é de origem pobre, e com grande ancestralidade indígena e africana, seus ritos sobreviveram na religião em que foram integrados, a religião dominante, o cristianismo.

Cultura dominante, cultura dominada e culturas emergentes

Com a colonização europeia, ideias e culturas do velho continente migraram para o novo mundo assim como os indivíduos, alias, a cultura veio com os indivíduos. Conforme a cultura dominante se tornou a cultura europeia, a mesma se tornou então, a camada mais expressiva de nosso estrato cultural. A linguá, a religião, o direito. e as noções de mundo ou cosmogonia, advêm do velho continente. As culturas dominadas, ou pré-existentes como a cultura indígena, subsiste, e interage com a nova cultura, sofrendo influencias e influenciado a camada mais alta. Culturas emergentes, são geralmente culturas estrangeiras que não oferecem inicialmente uma ameaça ao Establishment, no entanto, pode no futuro se tornar tanto uma cultura dominada ou uma cultura dominante. Um exemplo grande, seria a imigração germânica para as bordas do império romano, a cultura dominante latina, influenciou em maior escala a cultura germânica, do que a cultura germânica influenciou a cultura latina, mesmo que as migrações tenham causado o fim da organização politica imperial.

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